domingo, 16 de março de 2008

O mal-estar da pós-modernidade

Zygmunt Bauman

Considerado o teórico da pós-modernidade por Anthony Giddens, Zygmunt Bauman analisa o mundo contemporâneo e suas conseqüentes mazelas, prometendo causar o mesmo impacto quando do lançamento do divisor de águas do mundo moderno: O Mal-estar da Civilização, de Freud.

Não é por acaso que o livro se intitule O mal-estar da pós-modernidade, uma vez que o paralelo com a grande obra de Freud é recorrente ao longo deste, em que uma inquietante pergunta se torna freqüente: Será que ainda podemos revisitar os argumentos freudianos para explicar as contradições dos dias hodiernos?

Publicado pela primeira vez em 1930, em Viena, O mal-estar da Civilização foi revolucionário na sociedade tradicional da época, pois postulava que o excesso de ordem e segurança da civilização moderna exigia muitas renuncias ao indivíduo, constituindo-se em obstáculos à felicidade. O mundo civilizado e suas instituições, segundo Freud, impunham restrições do agir das pessoas, e essa coerção privava-as de ter a tão almejada liberdade.

“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto”, assim dizia Freud. A civilização “impõe grandes sacrifícios” à sexualidade e agressividade do homem, e isto era, para Freud, o que nos fazia sentir o mal-estar, ou seja, o empecilho à satisfação individual.

Passados mais de setenta anos, a liberdade individual reina soberana nos dias atuais, “é o valor pelo qual todos os outros valores vieram a ser avaliados e a referência pela qual a sabedoria acerca de todas as normas e resoluções supra-individuais devem ser medidas”, nas palavras de Bauman.

A desregulamentação é a ordem da vez. Vivemos em uma época líquida, em que os pilares da civilização moderna foram derrubados em favor de um crescente hedonismo. “O reclamo de prazer, de sempre mais prazer e sempre mais aprazível prazer” é o nosso objetivo supremo, sacrificamos a ordem e a tradição por ele, não há mais limites nem morais nem civilizatórios que impeçam essa busca.

Então, será que agora só nos resta gozar a liberdade e a felicidade das quais nos fala Freud?

O mal-estar da pós-modernidade tenta explicar o que tem ainda gerado desconforto no mundo atual, imperando um individualismo excessivo, um consumismo desenfreado, enfim, uma era de incertezas e fluidez, relacionamentos humanos frios e inconstantes.

Por isso, o filósofo polonês merece destaque nas salas de discussão das universidades e também nas prateleiras de leitores não-acadêmicos.


­­­­­­­­­Zahar, 1997
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Bauman foi considerado pela revista “Entre livros” um dos 7 filósofos imprescindíveis para este milênio. (Ano 3, nº 31)

www.revistaentrelivros.com.br

2 comentários:

Unknown disse...

Não que a modernidade seja de todo má, mas sabemos as consequências que ela acarreta ao relacionamento social. Verdadeirmente, o hedonismo tem fincado suas raízes no "desenvolvimento" humano individual e coletivo. Pena! Pois esta realidade direciona os passos da humanidade para o egoísmo, a doença, a miséria, a violência, a ausência de Deus e de si mesma.
Parabéns pelo blog! Gostei da iniciativa de divulgar livros e leituras. Obrigada por visitar o meu!
P.S.: Gostei da resenha sobre esse livro. Assim que der, terei o maior prazer de ler. Obrigada pela dica!

Unknown disse...

gostei muito da resenha e também vi que lerá "o senhor das moscas", muito bom também.
espero que atualize seu blog em breve.
abraços