domingo, 23 de março de 2008

Renato Russo: O trovador solitário

Arthur Dapieve

Não sou muito fã de biografias, mas esta despertou um interesse particular não só pela personalidade em questão, enigmática e símbolo de uma geração, mas também pela forma com que foi escrita e editada, parte que, a meu ver, é igualmente importante.

Com um estilo agradável e objetivo combinado com a paixão de um fã, Arthur Dapieve faz um passeio pela vida de Renato Manfredini Jr, o ícone que se sentia desconfortável com o título de novo “porta voz da juventude”. Sua vida e história, sem dúvida alguma, impactaram o rock brasileiro nos anos 80, servindo de marco para uma geração coca-cola.

Cada capítulo da vida de Renato Russo refletia profundamente em suas letras. O livro soube captar isso muito bem, não deixando de relacionar as letras das canções – principalmente as mais famosas – com o momento vivido por Renato e pela Legião Urbana. É quase uma leitura musical!

O livro Renato Russo: O Trovador Solitário, além de acompanharmos a trajetória deste artista fundamental para a música brasileira, reúne ilustrações, fotos marcantes e sua discografia completa. O projeto gráfico é magnífico, só nos dá ainda mais vontade de ler.

Ediouro, 2006

segunda-feira, 17 de março de 2008

Saraiva compra Siciliano

“A Saraiva anunciou a compra de 100% das ações do grupo Siciliano. Segundo o diretor-presidente da Saraiva, Marcílio Pousada, a empresa vai pagar R$ 60 milhões pelo negócio e ainda assumir a dívida líquida (não auditada) da Siciliano, no valor de R$ 13 milhões. A negociação, que vinha se desenrolando desde agosto de 2007, inclui as atividades editoriais do grupo, com os selos Arx, Futura, Caramelo e ArxJovem, e também um site de comércio eletrônico.

As 63 lojas Siciliano –52 próprias e 11 franquias – passam a integrar a rede de livrarias Saraiva, que em dezembro de 2007 tinha 36 lojas próprias. Ao todo, a Saraiva passa a ter 99 livrarias, na maioria dos Estados brasileiros.

A compra da Siciliano pela Saraiva reforça o movimento de consolidação entre as livrarias brasileiras. Juntas, as duas redes serão responsáveis por cerca de 20% da venda de livros do País, um mercado que movimenta R$ 3 bilhões por ano.”

Fonte:
http://www.abrelivros.org.br/abrelivros/texto.asp?id=2976

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Uma única empresa dominando os principais pontos de vendas no país pode não ser tão favorável para as editoras, cujo poder de barganha tende a diminuir. Editoras pequenas então, nem se fala!

O que será dos pequenos livreiros quando uma megastore como a Saraiva oferece descontos de 20% a 40% no preço final do livro? Sem dúvida, concorrência desleal. Talvez teremos mais “livreiros assassinos” no Brasil...

domingo, 16 de março de 2008

O mal-estar da pós-modernidade

Zygmunt Bauman

Considerado o teórico da pós-modernidade por Anthony Giddens, Zygmunt Bauman analisa o mundo contemporâneo e suas conseqüentes mazelas, prometendo causar o mesmo impacto quando do lançamento do divisor de águas do mundo moderno: O Mal-estar da Civilização, de Freud.

Não é por acaso que o livro se intitule O mal-estar da pós-modernidade, uma vez que o paralelo com a grande obra de Freud é recorrente ao longo deste, em que uma inquietante pergunta se torna freqüente: Será que ainda podemos revisitar os argumentos freudianos para explicar as contradições dos dias hodiernos?

Publicado pela primeira vez em 1930, em Viena, O mal-estar da Civilização foi revolucionário na sociedade tradicional da época, pois postulava que o excesso de ordem e segurança da civilização moderna exigia muitas renuncias ao indivíduo, constituindo-se em obstáculos à felicidade. O mundo civilizado e suas instituições, segundo Freud, impunham restrições do agir das pessoas, e essa coerção privava-as de ter a tão almejada liberdade.

“A civilização se constrói sobre uma renúncia ao instinto”, assim dizia Freud. A civilização “impõe grandes sacrifícios” à sexualidade e agressividade do homem, e isto era, para Freud, o que nos fazia sentir o mal-estar, ou seja, o empecilho à satisfação individual.

Passados mais de setenta anos, a liberdade individual reina soberana nos dias atuais, “é o valor pelo qual todos os outros valores vieram a ser avaliados e a referência pela qual a sabedoria acerca de todas as normas e resoluções supra-individuais devem ser medidas”, nas palavras de Bauman.

A desregulamentação é a ordem da vez. Vivemos em uma época líquida, em que os pilares da civilização moderna foram derrubados em favor de um crescente hedonismo. “O reclamo de prazer, de sempre mais prazer e sempre mais aprazível prazer” é o nosso objetivo supremo, sacrificamos a ordem e a tradição por ele, não há mais limites nem morais nem civilizatórios que impeçam essa busca.

Então, será que agora só nos resta gozar a liberdade e a felicidade das quais nos fala Freud?

O mal-estar da pós-modernidade tenta explicar o que tem ainda gerado desconforto no mundo atual, imperando um individualismo excessivo, um consumismo desenfreado, enfim, uma era de incertezas e fluidez, relacionamentos humanos frios e inconstantes.

Por isso, o filósofo polonês merece destaque nas salas de discussão das universidades e também nas prateleiras de leitores não-acadêmicos.


­­­­­­­­­Zahar, 1997
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Bauman foi considerado pela revista “Entre livros” um dos 7 filósofos imprescindíveis para este milênio. (Ano 3, nº 31)

www.revistaentrelivros.com.br