quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A Abolição do Homem


C.S. Lewis


Segundo Walter Hooper, A abolição do Homem deveria ser o segundo livro lido por todo mundo depois da Bíblia. Exageros à parte, nunca li nada mais claro e convincente, com uma argumentação sólida e consistente em defesa de uma Moralidade Absoluta, a qual sofre, nos dias atuais, uma intensa relativização.

Partindo de um pequeno trecho de um livro destinado a “meninos e meninas das últimas séries”, C.S Lewis destaca uma simples fala de um personagem a fim desvelar qual a intenção do autor e como será a recepção do seu público juvenil. Sua aguda percepção o permite deduzir que aquela afirmação poderia conter um incentivo a uma idéia, a um pressuposto “que, dez anos mais tarde, quando sua origem estiver esquecida e sua presença for inconsciente, vai condicioná-lo a tomar um determinado partido” em uma situação particular.

Nada mais óbvio para nós, geração do pós-pós, condicionados a receber – muitas vezes passivamente, embora defendamos fervorosamente a bandeira da interatividade, conectividade e outros “dades” da vida – influências e estímulos próprios da vida moderna.

A preocupação do autor, e que poderia ser a nossa, é detectar que tipo de conseqüência um simples trecho de um livro infantil – ou, em nosso caso, um comercial de TV, um artigo de jornal, um brinquedo, um game, um outdoor, etc – pode ter sobre nossa geração e sobre gerações futuras.

Tais artefatos tendenciosos porém não foram feitos ou articulados por ninguém a não ser o próprio homem. E isto vem do avanço do ensino das ciências aplicadas, a qual vulgarmente conhecida e bradada como “A Conquistada do Homem sobre a Natureza”, no sentido em que o gênero humano tem poder e força capazes de subjugar as forças tidas como naturais a seu bel prazer.

Desde a Idade da Razão, fala-se dessa concepção criativa da mente humana em relação à natureza. Dentro de uma visão progressista, tal processo tem se sido cada vez mais célere nos últimos anos com todo o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia em seus diversos campos.

“A natureza está a serviço do homem”, conclamam alguns de seus defensores ao anunciar a descoberta do DNA, os modernos métodos anticoncepcionais, a clonagem de células, a nanotecnologia e os recentes estudos sobre física quântica. Assim, o Homem aprendeu a se sentir dono da Natureza, porém ultimamente se esforça para aprender a ser vítima dela, vide, por exemplo, todas as conseqüências irreversíveis do aquecimento global.

Assim como no livro de C.S. Lewis, não se trata aqui de rejeitarmos todo e qualquer avanço científico, negando qualquer aspecto positivo que deles advierem, ou ainda nos tornando tecnofóbicos, caindo num maniqueísmo sem quaisquer precedentes. Mas sim, de nos debruçarmos sobre a seguinte questão: Em que sentido o Homem possui um poder crescente sobre a Natureza?

Será que, uma vez tendo esse poder, ele o usa em favor de todos da raça humana ou só para alguns? Não seria cada novo poder conquistado pelo homem uma forma de poder sobre o homem? Dessa forma, o que nos parece ser a conquista final do homem pode significar a própria abolição do Homem?

Não pretendo estragar toda a brilhante argumentação do autor com minhas insípidas e breves palavras, mas apenas deixar um humilde convite para a leitura de mais um excelente livro de C.S. Lewis, A Abolição do Homem.

Editora Martins Fontes

6 comentários:

lucas disse...

Outro que certamente lerei, gosto da maneira que este autor aborda temas bem distintos, porém mantendo uma qualidade fantástica na escrita, conduzindo o leitor pagina após pagina, sedento pelo final.

Gabriele disse...

Amei a sua forma de escrever e seu singelo e certeiro resumo. Disse tudo e deixou para Lewis entre Outros, dizerem o resto. Vá em frente, garoto!!!

Saulo disse...

Lewis, Lewis..

Professor catedrático de Cambridge em literatura, amigo de Tolkien, o que explica muita coisa.

Estou lendo esse livro. Recomendo As Crônicas de Nárnia, O grande Abismo e A Trilogia de Ransom, todos livros de ficção do autor.

Saraiva Soares (Mortification) disse...

Comprei o livro, mas até agora não entendí quase nada.

Luciana Oliveira disse...

Sem dúvida Lewis é um autor fascinante. Li Perelandra, Cristianismo Puro e simples e agora estou lendo A Abolição do Homem mas confesso que estou achando a leitura muito pesada. Talvez uma nova edicação dividindo o livro em mais capítulos tornaria a leitura mais tranquila. No entanto, concordo em gênero, número o grau com a ideia central do livro..

hebiolopes disse...

É, sem dúvida, o livro mais significativo que já li na vida. É surpreendente como Lewis discorre de forma séria e convincente sobre temas que hoje, e sempre, são de valiosíssima importância: moral, comportamento, educação, democracia, direito, etc. Leiam por amor à inteligência!