As palavras nunca são loucas (no máximo perversas), é a sintaxe que é louca (...)
Roland Barthes
O que é o amor? Indagação nada fácil de responder, poetas e românticos de todos os tempos se esforçaram e se esforçam para alcançar ao menos um resquício do que venha a ser Eros. Roland Barthes aposta então em outra pergunta: Como o amor se apresenta quando ele é comunicado? Isto é, quando está infundido num complexo emaranhado de estruturas e fórmulas que é a linguagem?
Roland Barthes, em Fragmentos de um discurso amoroso, pretende investigar o amor – ou a condição amorosa – no ponto de vista do discurso. A carta de amor, as declarações, são formas de tentar pôr em palavras um sentimento sublime e quase imperscrutável, por isso que o discurso amoroso é, muitas vezes, contraditório, exagerado, louco.
Para incorrer nesse desafio, Barthes, como ilustre intelectual da França de 1968, escolhe um método “dramático” na sua escrita, renunciando a exemplos e substituindo a simples descrição do discurso amoroso por sua simulação, desenvolvendo-se em primeira pessoa, o “eu” amoroso, posto que o livro todo é uma enunciação, e não uma fria análise. É alguém (o amante) que fala de si mesmo e do outro (objeto amado), que não fala.
Para compor o sujeito apaixonado, o semiólogo também se vale de inúmeras e preciosas referências, que acompanham essa enunciação ao longo do livro. As citações a Werther de Goethe norteiam todo o discurso, ao lado de textos clássicos como O Banquete de Platão, além de consagrados escritores – Proust, Flaubert, Balzac, Baudelaire, Stendhal – e filósofos – Freud, Sartre, Lacan e Nietzsche. Há também o que Barthes recolheu em conversas com amigos e experiências de sua própria vida.
Abordando de maneira criativa um tema considerado démodé para a intelectualidade da época, Fragmentos de um discurso amoroso é livro obrigatório para aqueles que se interessam por literatura, lingüística, filosofia e, é claro, amor.